O golpe do "X"

Neste início do século XXI a tecnologia das redes digitais a Internet, atingindo todas as partes do planeta fez com que os negócios se tornassem virtuais.
Nas telas dos computadores de todo o mundo as pessoas podem "ver" as empresas em um gráfico do Power Point!
Com isso, um investidor de Cingapura pode ter todas as informações que precisa de uma empresa no outro lado do mundo, por exemplo no Brasil.
Tais informações podem ser compostos por uma infinidade de documentos, fotos, vídeos, projeções otimistas, avaliações de especialistas, analises "independentes", opiniões de políticos, empresários e banqueiros.
Inclusive, podem estar alavancadas, mas não garantidas, por grandes bancos de investimentos estatais.
Porém, tudo isso pode ser parte de uma grande encenação onde entram centenas e até milhares de atores e instituições.
Todo esse esforço é necessário porque um investidor de milhões de dólares busca a opinião de várias fontes, contrata diversos escritórios de estudos de mercado, de avaliação e consultoria, para que possa fazer seu investimento baseado em diversas fontes supostamente seguras, só que, por diversas razões práticas ele não vai pessoal ver a empresa na qual irá investir em detalhes.
Entretanto, isso tudo é como a luta entre hackers e engenheiros de segurança, quanto mais os engenheiros descobrem os caminhos usados pelos hackers, mais os hackers inventam formas de ludibriar a segurança.
No caso da economia existe esse enorme esforço de "transparência" e convencimento porque agora os golpes não se restringem mais a milhões, mas sim a bilhões de dólares!


O golpe do "X"

A natureza do golpe é simples.
Um ou vários empresários fundam uma ou várias empresas.
Fundamentado em diversas informações técnicas "seguras" estes empresários abrem o capital de suas empresas no mercado de ações.
Essa abertura de capital vem acompanhada de uma campanha publicitária bem disfarçada de "avaliações técnicas" que prometem que essas empresas irão ter enorme lucro no futuro pois vão atuar com muitas commodities de grande valor no comércio mundial, tais como minérios, petróleo, energia, industria pesada, construção, dentre outras - este é a "isca".
A "isca" é a mesma de sempre, do mais antigos dos golpes - a promessa de grandes lucros!
Tal como o golpe do bilhete premiado, onde a vítima paga 1000 reais devido a promessa que vai ganhar 10000 reais...
No caso do "golpe do X" os grandes investidores mundiais não vão ver em loco as tais empresas com o suposto imenso potencial de lucros, mesmo porque elas ainda não existem na prática!
A razão social da empresa existe, mas o capital real não, ele só vai supostamente existir a partir da futura capitalização em função da suposta enorme produção que acontecerá.
Então, o investidor paga em dinheiro aos empresários por exemplo 200 milhões de dólares em dinheiro e recebe em troca ações negociáveis em bolsa, ou seja - dinheiro em troca de papel.
Os empresários colocam, felizes, esse dinheiro em seus bolsos.... e o investidor coloca papel no bolso, e na cabeça a esperança de grandes lucros.
Inicialmente, para felicidade do investidor, a cotação de tais papéis na Bolsa de Valores é alta e estimula ainda mais investidores, e assim continua por um certo tempo.
O empresário pode até dizer que ele cria riquezas do nada... mas isso não é verdade, quem acreditar nisso vai ser enganado, pois ainda não inventaram uma fórmula para criar valor do nada.
As supostas riquezas prometidas, na prática, apesar de existirem, não podem ser exploradas tão facilmente, existem enormes dificuldades técnicas para sua transformação em commodities.
Por exemplo o "pré-sal" do Brasil... existe, mas, as pesquisas ainda não são totalmente confiáveis e as dificuldades para chegar até ele são enormes.
Alem disso, o empresário pode não ter a competência que apregoava ter para tornar sonhos em realidade!


A crise de 2008 no EUA teve como causa um "golpe do X".

No EUA em 2008 o que aconteceu foi um golpe "X".
Uma imensa gama de "agentes", inclusive o FED, abalizaram uma enorme venda "segura" de casas financiadas.
É claro que para construir milhares de casas muito dinheiro tem que ser investido... e muitos investidores investiram dinheiro em construtoras "seguradas" por agencias bancárias e seguradoras na promessa de terem bom rendimento por muitos anos através do pagamento das prestações mensais pelos compradores das casas.
Porém, a maioria dos compradores não tinham condições para pagar o que compraram, uma das razões é que o preço pago foi superfaturado, as prestações foram se acumulando e eles entregaram os imóveis aos bancos, devido ao grande volume de casas devolvidas o preço de casas despencou e os bancos não tiveram retorno do dinheiro investido.
Muita gente sabia que isso ia acontecer, inclusive o presidente do FED.
O FBI está processando diversas pessoas suspeitas de participarem desse negócio.

Informação sobre as investigações do FBI podem ser encontradas em:

2008 Mortgage Fraud Report
http://www.fbi.gov/stats-services/publications/mortgage-fraud-2008


Top Mortgage Fraud States

Mas, é claro que as construtoras receberam o total do valor das casas construídas por elas!
E todos que participaram do conluio receberam suas respectivas partes.
Quem perdeu dinheiro, bilhões de dólares, foram os investidores por que os bancos e as seguradoras faliram e não os pagaram.


O "golpe do X" no Brasil

O acionista majoritário do grupo EBX em 2005 não entrava nem na lista dos mais ricos do Brasil, em 2010, 5 anos depois, ele era o oitavo mais rico do mundo com uma fortuna de 30 bilhões de dólares!
Em 2011, diante do estrondoso sucesso ele escreveu o livro "O X da Questão".

Por um capricho esnobe, que para os que tem bom faro nestes assuntos não cheira bem, todas as empresas do grupo tem como nome uma sigla com 3 letras, sendo que a última é sempre um "X".

Segundo o empresário "O X representa a multiplicação, acelera a criação da riqueza".

Através de uma rede de informações no Brasil e no mundo foi criada uma imagem espetacular para o grupo EBX como tendo um futuro glorioso e gerador de enormes riquezas para seus acionistas.
Com isso a OBX, uma das empresas do grupo, em um só dia de captação em 2008, embolsou 4,1 bilhões de dólares!

As empresas do grupo:
OGX (óleo e gás),
MPX (energia),
LLX (logística),
MMX (mineração),
OSX (indústria naval)
CCX (carvão mineral),

seguiram sendo motivo de investimento internacional de grande monta, acredito que ao todo tenham captado em torno de 10 bilhões de dólares.

As ações do grupo EBX incharam no mercado de ações e transformaram seu dono, de uma hora para outra, no possuidor de uma fortuna de 30 bilhões de dólares!

Só que, tal fortuna era fictícia.
Os bens reais, as commodities que seriam o lastro dessa enorme riqueza - não existiam!
E nem tão pouco foram geradas nos 3 anos seguintes a abertura do capital.

Em 2013, da mesma forma "mágica" que a fortuna surgiu ela desapareceu!
O acionista majoritário do grupo, que em 2012 era o oitavo mais rico do mundo, neste momento não está nem entre os 500 mais ricos do mundo!
As ações do grupo agora valem muito pouco.... quem investiu dinheiro nelas perdeu quase tudo.

Este foi, na realidade, o "X" da questão...


Como o FORBES está vendo esse acontecimento envolvendo o grupo EBX

Vou colocar a seguir a tradução de um artigo do Forbes que achei muito bom pois fala de forma clara, sem meias palavras, como este episódio está sendo visto nos meios econômicos mundiais.


7/11/2013 @ 2:28PM
What Is Left For Eike Batista And His Investors?
Eike Batista: soon-to-be millionaire?

http://www.forbes.com/sites/andersonantunes/2013/07/11/what-is-left-for-eike-batista-and-his-investors/

O que resta para Eike Batista e seus investidores?
Eike Batista: Um milionário passageiro ?

Depois de entrar em uma discussão acalorada, Eike Batista foi baleado nas costas por um homem que lhe devia dinheiro.
O incidente ocorreu no início de 1980, quando Batista era um próspero comerciante de ouro e diamantes com base na Amazônia, isso foi descrito pelo bilionário em sua autobiografia de 2011, The X Factor.
Era, escreveu ele, uma das várias formas pouco ortodoxas em que ele aprendeu a se tornar um empreendedor - mesmo no mais inóspito dos lugares.
"Tenha paciência. Não dê ouvidos a boca ruim ", escreveu Batista.
Em um tom mais confessional, Batista - ficou famoso quando prometeu ao FORBES ele iria se tornar o homem mais rico do mundo - e deu o conselho final sobre como obter sucesso no mundo dos negócios: "Na medida certa, ousadia e megalomania são recomendáveis."
Era o sonho de Eike Batista de se tornar o homem mais rico do mundo apenas isso, um sonho?

Ousadia e megalomania são, certamente, as características do plano de Batista para criar o que poderia ter sido o império de commodities mais promissor já construído no Brasil, uma idéia que era tão surpreendente e pareceu bem na prancheta, mas que simplesmente não ter continuidade.

Eis como tudo deu errado.

O maior perdedor do mundo entre os bilionários deste ano, a riqueza de Batista residia em grande parte nas seis empresas de capital aberto que ele possuía ações diretamente ou através do seu conglomerado. o Grupo EBX.
Ele caiu a cerca de US $10,6 mil milhões na última lista de bilionários do mundo da Forbes 'em março de 2013, dos US $ 30 bilhões em março de 2012.
Grande parte desse valor foi em antecipação da enorme riqueza que as empresas gerariam uma vez em pleno funcionamento, o que era esperado para acontecer em algum momento do ano passado.
Isso não aconteceu.
Como muitos dos projetos de Batista perderam os prazos, os investidores começaram a se desfazer do estoque de ações - Ações de empréstimo e venda, com a esperança de comprá-los de volta a um preço inferior.
Isso pode levar a um desastre se a empresa está a tentar lançar um negócio antes que ele esteja completamente pronto, que foi basicamente o que aconteceu.
Em março, a OGX informou que ela estava produzindo menos de 15 mil barris por dia, bem abaixo da estimativa anterior de 50 mil barris por dia, de acordo com os geólogos contratados pelo bilionário junto a empresa estatal de petróleo do Brasil, a Petrobras PBR 7,4%.
Um número, que esperavam, iria subir para 730 mil barris por dia até 2015.
Ficou pior. No início deste mês, a OGX anunciou que seu único poço produtor de petróleo, em seu campo de Tubarão Azul, poderia cessar a produção no próximo ano devido a "condições geologia desafiadoras.".
"As projeções anteriormente divulgadas, incluindo as relacionadas com as metas de produção da OGX , não deve ser considerado válido e deve ser desconsiderada ", afirmou a empresa em nota.

Isso foi uma grande surpresa, porque a OGX havia liberado 105 declarações para o mercado nos últimos dois anos e meio, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo, 55 deles narrando as mesmas etapas de "aumento" no desenvolvimento de campos de petróleo e levando a empresa a subir de preço no mercado.

Securities watchdog CVM já está investigando o assunto, que está sendo tratado como uma bolha e é alvo de 17 investigações preliminares.

A pergunta é: Será que Batista voluntariamente vendeu apenas sonhos, sabendo que ele não seria capaz de entregar e, portanto, teve lucro da especulação?
Um porta-voz do Grupo EBX se recusou a comentar sobre o assunto.

OGX, que é a principal empresa do Grupo EBX, veio a público em 2008, no que foi - e ainda é - o maior IPO da história do Brasil, levantando US $ 4,1 bilhões.

A empresa, assim como todas as outras empresas de Batista, estão fortemente apoiadas pelos bancos estatais, como o BNDES, banco de desenvolvimento do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Como se vê, Batista não seria nada se não fosse o patrocínio do governo, especialmente a promovida pelo ex-presidente do Brasil, Luis Inácio Lula da Silva, que viu no bilionário o porta-voz ideal para o seu discurso promocional "nunca-antes-na-história-deste-país".

Ele não reflete a verdadeira realidade do Brasil, que Lula governou durante oito anos.
Lula tentou forjar em Batista o homem mais rico do mundo para seu próprio bem, como uma resposta aos que duvidavam que um ex-líder sindical poderia governar um país capitalista.
Mesmo depois de deixar o cargo, Lula manteve-se ajudando Batista quando ele pressionou sem sucesso para um acordo com o estaleiro Jurong de Cingapura que iria salvar o Superporto do Açu, subsidiária da empresa de logística de Batista, a LLX.

É uma coisa se você arriscar seu próprio dinheiro em um negócio.
É algo totalmente diferente quando você faz isso com o dinheiro dos contribuintes.
Como o resultado do entusiasmo de Lula, que foi continuada pelo governo de Dilma Rousseff, tanto BNDES e Caixa Econômica Federal são agora os bancos mais expostos aos problemas de Batista, de acordo com o Bank of America BAC 1,05%, com uma dívida total de cerca de US $ 5,2 bilhões, um número que pode ser "subestimado" em meio a fraca divulgação e dificuldade em saber o quanto de que a exposição está garantida.

Já em modo de controle de danos e vender desesperadamente ativos e regularização da dívida para reduzir os requisitos de alguns dos que garantia, Batista também está sob o escrutínio dos acionistas minoritários que estão unindo forças para pressionar os reguladores de olhar para suas empresas e suas finanças.
Eles se queixam de que o governo, bem como os reguladores de petróleo, energia e títulos, não conseguiram avaliar se um rápido crescimento em ativos e dívida de Batista era sustentável ou mesmo possível.
Na semana passada, eles até formaram um grupo, chamado Unax, que representa a União dos acionistas minoritários da EBX, para canalizar suas demandas para o governo e as agências de rating de crédito e outras entidades de mercado.
O advogado do grupo, Adriano Mezzomo, disse que os acionistas minoritários estão pensando em pedir que as autoridades congelem os bens pessoais de Batista. (De acordo com a Bloomberg, escritórios de advocacia Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP e Bingham McCutchen LLP também está organizando encontros separados com os detentores de bônus da OGX de Batista e OSX, de construção naval do bilionário e empresa de serviços offshore, para discutir a lei de falências brasileira.)

Batista agora vale cerca de US $ 2,8 bilhões, o que faria dele a 503o. pessoa mais rica no mundo.

Não seria a primeira vez que Batista se viu em uma situação tão caótica.
Em 2006, ele teria sido responsável pela falência de 10 empresas franqueadas da FLX Consultoria e Franchising, uma empresa de beleza em que sua ex-mulher e garota da capa da Playboy Luma de Oliveira foi sua parceira de negócios.
Na época, Batista foi multado em R $ 4 milhões (US $ 1,8 milhões).
Os demandantes no processo o acusaram de má gestão e quebra de contrato.
Um porta-voz Batista se recusou a comentar sobre o assunto.

Empresas de capital aberto de Batista têm atraído uma onda de investimentos estrangeiros no Brasil, ao longo de uma década de boom de commodities.
Por algum tempo, funcionou.
Mas, como o choque de realidade em conjuntos, a crise das empresas de Batista está provocando uma debandada no índice de referência Bovespa de ações, que está sendo negociado atualmente em uma baixa de quatro anos.
É até mais de 20% este ano.

Como o colapso das suas empresas, Batista foi forçado a demitir-se como presidente de sua problemática empresa MPX de geração de energia, o grupo alemão E.ON SE aumentou seu capital na empresa e assumiu o controle da mesma.
Ele está perdendo o apoio da Mubadala Development Company, de Abu Dhabi, que tem apenas reduziu sua exposição a EBX para cerca de $ 1,5 bilhão de um investimento de 2.000 milhões dólares feita em março de 2012.
O diretor financeiro da sua holding, a EBX, se demitiu.
Sua empresa de mineração, a MMX, está à procura de um comprador.
OGX deve ser o próximo.

É improvável que Batista venha a se tornar pobre, como os brasileiros estão brincando agora, mesmo após o colapso iminente de seu império de negócios.

Na pior das hipóteses, ele vai perder seu status de bilionário e será lembrado como "o homem que fez mais dinheiro a partir do PowerPoint depois de Bill Gates."

Para os investidores, é como levar um tiro nas costas por um malandro no meio da selva.
E desta vez, foi Batista que puxou o gatilho.


Essa última tirada ""o homem que fez mais dinheiro a partir do PowerPoint depois de Bill Gates." foi sensacional !



***